Mais conhecido como jornalista incendiário do que como ficcionista, Carlos Lacerda oferece uma bela surpresa aos leitores com esses contos que a Editora UnB e a Fundamar selecionaram. São histórias escritas em duas fases distintas, ambas coincidindo com períodos ditatoriais: ditadura Vargas, nas décadas de 30 e 40, e dos militares, nas décadas de 60 e 70. Impedido de atuar politicamente, de falar e de escrever sobre assuntos políticos, voltou-se para os livros, seja editando-os, os próprios e os de terceiros, seja escrevendo crônicas, reportagens e traduções. Alguns contos deste volume trazem preocupação política e social, refletindo a situação do autor no tempo, cerceado em seus direitos de cidadão. Figuram neste caso: "Ela escreveu uma carta", "História comovente pra cachorro","A jovem caranguejeira", "Vôo da gaivota sobre a mina", para citar algumas do primeiro período. Outros compõem belas páginas de amor, de sensibilidade e de malícia, como o antológico " A despedida". Este, da última fase, com o autor na maturidade plena a merecer a frase de Josué Montello para outro trabalho de Carlos Lacerda. "A casa do meu avô": "há momentos de poesia genuína".