A cidade imaginária de Perobeiras, localizada no Vale do Rio Doce, MG, entre 1930 e 1945, sob a ditadura Vargas, serve de cenário para o romance Entre o Passado e o Tempo. Da mesma forma Ouro Preto, Mariana, Catas Altas, Seminário do Caraça, Petrópolis e Rio de Janeiro completam esse cenário. A vida do jovem Giulio de Lucca Alberoni Cellini, o Giulinho, filho de imigrantes italianos, que se instalaram em Perobeiras, no final do século XIX, é o centro do romance. Os conflitos políticos, sociais e econômicos do Brasil nesta época – como o Golpe de 1930, a Revolução Constitucionalista de 1932, a Intentona Comunista de 1935 e o Estado Novo de 1937, agravados pela recessão de 1929 e a Segunda Guerra Mundial –, enriquecem a narrativa, revelando-nos a habilidade do autor com a pesquisa histórica, numa abordagem sem precedentes desse período do Brasil. Juntam-se a esse panorama os conflitos geopolíticos ocorridos do Vale do Rio Doce, nessa época, que permitiram, com a anuência dos governantes, que investidores estrangeiros se apropriassem dos mananciais com potencial hidráulico na região, das jazidas de minério de ferro recém-descobertas, das ferrovias criadas para o escoamento dessas riquezas, do setor siderúrgico incipiente, originando problemas socioeconômicos recorrentes, que ainda persistem, em pleno século XXI, na frágil soberania brasileira nesse campo.Devido a conflitos locais que resultaram em uma tragédia na família Cellini, Giulinho teve que abandonar tudo que amava, desde a namorada, Antonieta, até o sonho de estudar engenharia na Escola de Minas de Ouro Preto. A narrativa começa seis meses depois desta tragédia, no verão de 1937, com o embarque de Giulinho pela Estrada de Ferro Leopoldina Railway, em direção à Capital Federal, para ingressar na Escola Nacional de Medicina, na Praia Vermelha, no Rio de Janeiro. A vida dos personagens e o momento em que vive o Brasil, na era Vargas, permitem aflorar bons momentos do livro em cada capítulo, sem exceção.Entre o Passado e o Tempo é um romance maduro e bem construído pelo Autor, escrito de forma especial, de leitura leve, como se o narrador, retrocedido no tempo, estivesse realmente inserido naquele panorama singular da história.