As Vidas Alheias é um romance europeu. Mas na Europa descrita por José Overejo não há espaço para adjetivos como clássico e civilizado, comumente associados ao velho mundo. O escritor espanhol revela o continente que se esconde sob o tapete, aqueledo s imigrantes que vendem Kebab pelas ruas, a nova Europa que mantém os velhos vícios imperialistas e exploratórios. O livro que ganhou o "Prêmio Primavera da Literatura", um dos mais importantes da Europa, é também uma história de conflitos pessoais, de fraquezas humanas, de vidas que se cruzam, enfim. O enredo gira em torno da chantagem de alguns jovens belgas, que descobrem a foto de um antigo explorador em ação no Congo. Em tempos politicamente corretos, a imagem se tornaria constrangedora par a um dos descendentes deste explorador, o empresário Lebeaux. Ele é presidente de uma grande companhia que ainda mantém negócios na África, valendo-se da exploração de mão-de-obra semi-escrava e se aproveitando dos conflitos que espalham sangue pelo continente. Mas nos círculos sociais de Bruxelas é um homem respeitado, amigo de políticos influentes, cioso por manter sua boa imagem. O cenário também é emblemático: Bruxelas é a capital da União Européia e os personagens e histórias pessoais, envo lvendo imigrantes de países pobres, são comums a todas as capitais do Velho Mundo. Os impasses também: os chantageadores contam com a ajuda de um africano, Kasongo. Ao mesmo tempo, um deles, o belga Claude, queixa-se pelo fato de que Bruxelas é cada vez menos uma cidade européia e diz que gostaria de se pintar de negro para conseguir os benefícios sociais que recebem os imigrantes. De repente, não há campos definidos e temas como xenofobia, identidade nacional e deterioração de instituições trad icionais se espalham nas entrelinhas. É a globalização do barbarismo. Mesmo Kasongo, que foi buscar asilo na civilizada Bruxelas, numa certa altura do livro diz: "Para isso havia Kasongo atravessado o mundo? Para nunca sair do mesmo lugar?", pergunta -se, ao se deparar com a paisagem miserável de um bairro periférico habitado por imigrantes, na capital belga. Não há mocinhos e bandidos em As Vidas Alheias. Parece que o mundo pós-moderno e globalizado já não comporta a velha divisão maniqueísta e a luta de sobrevivência de Kasongo, o complexo de perdedor de Claude, a rebeldia de Daniel e as questões de auto-afirmação de Lebeaux.
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Autor |
José Ovejero |
Editora |
BARCAROLLA |
Idioma |
PORTUGUES |
Encadernação |
BROCHURA |
Páginas |
302 |
Ano de edição |
2007 |
Faixa etária |
Padrao |