Hóspede da Solidão. O título intrigante e instigante (reforçado pela bela capa do livro) parece o de um romance psicológico, com elementos de narrativa policial, angústia, dilaceramento, desencontros, mistério. Não deixa de ser assim, mesmo se tratando de uma reunião de crônicas. Escritas no dia-a-dia do jornalismo, elas contêm fartura de elementos romanescos, apesar de serem uma fiel e (quase sempre) bem-humorada recriação literária de fatos vividos e presenciados por Rodolfo Konder, ao longo de um dos períodos mais ricos, perturbadores e selvagens da história brasileira. Assim, alguns dos melhores trabalhos reunidos neste volume abordam fatos (pessoais e de terceiros) ocorridos durante o golpe militar de 1964 e os anos tensos que se lhe seguiram. Sem ressentimentos, mas com um certo desencanto, visível sob a capa de tolerância pelas tolices e barbaridades dos homens, Konder percorre com o leitor os caminhos do exílio, a dura experiência da prisão, mas também a superação dessa fase amarga, a volta por cima, as sucessivas viagens a trabalho, conhecendo o prosaico que qualquer turista conhece e os mitos vivos, homens que modelam a sua época e muitas vezes não passam de personalidades frustrantes. Sobre uma dessas personalidades, o então secretário do Partido Comunista da União Soviética, Leonid Brejnev, Konder traça um perfil admirável, 'um primoroso exercício de ironia a serviço do desmascaramento da impostura', como observa Luthero Maynard no prefácio. Outros flagrantes ricos de humanidade são o seu encontro com o presidente João Goulart, o dramaturgo Jorge Andrade e com personalidades internacionais do mundo artístico e intelectual: Julio Cortázar, Robert Levine, Jules Dassin, Ralph Della Cava. Encontros que fazem de Konder um hóspede da integração.