• Frases desfeitas

Máxima, sentença, adágio, apotegma. Esses termos meio vetustos servem para descrever um dos mais ilustres gêneros literários: o aforismo – ou seja, a frase curta, a tirada de espírito, cheia de agudeza e ironia. Aforismos mostram o avesso do avesso das coisas, são clichês em negativo, antídotos contra o senso comum e o pedantismo. Nossos melhores aforistas são aqueles que rejeitam a machadiana “teoria do medalhão” (um saber postiço e vazio) e preferem a tirada sarcástica feita no calor da hora, a observação sobre situações concretas, revolvendo nosso ridículo e nossas pretensões. É nesse time que joga o compositor, publicitário e escritor Carlos Castelo, autor de Frases Desfeitas. Quem conhece o seu trabalho como letrista do conjunto Língua de Trapo sabe que a esculhambação e o humor dessas letras estão cheias de menções que exigem ouvintes com um mínimo de repertório. Em Frases Desfeitas, a toada é a mesma. O que o coloca Castelo no distinto rol de Millôr e Verissimo é justamente a linguagem desinflada, a piada desentranhada da fala da rua e da retórica oficialesca, em suma, o faro para o cômico e para as contradições do presente – satirizados na linguagem do presente. Se bem que, do jeito que a coisa vai, os temas de Frases Desfeitas tendem a se perpetuar – o que mostra que esses “desaforismos” tão atentos ao que é imediato têm tudo para continuar valendo por mais algumas décadas.

Geralmente estes textos sobre o autor são uma tremenda puxação de saco. Este não. Porque eu odeio Carlos Castelo. E nem odeio por um motivo nobre, mas pelo mais torpe, baixo e vil: a inveja. Eu não entendo como o cara consegue ser tão enxuto, tão resumido, tão sintético. Ele fala muito com muito pouco. É um paradoxo. Um Castelo minimalista. Quer um resumo do consumismo, dos problemas gerados pela cobiça na sociedade moderna? Você pode ler uns 20 livros ou a frase “Quem tudo quer, nada zen”. Quer debater sobre as diferenças entre prosa e poesia, assunto que já rendeu uma floresta em livros? Não precisa. Basta “Poesia é a prosa toda prosa”. Conheci o trabalho do Castelo antes de saber que ele existia, porque gostava muito do Língua de Trapo. E algumas letras eram dele. Até hoje lembro quando escutei pela primeira vez o “Samba-enredo da TFP”. Quanta piada em tão pouco espaço! E piadas boas, não dessas que só podem ser escutadas uma vez. Ah, inveja, inveja...
Nunca vi Carlos Castelo pessoalmente. E nem quero! Imagine como deve ser péssimo discutir com ele numa mesa de bar. Por exemplo, vai que a discussão seja sobre o sentido da vida. Você põe a mão no queixo, cita Kierkegaard, Schopenhauer e Sócrates (o jogador), usa proparoxítonas e frases em latim, mas o sujeito esmigalha tudo com “Quem ri por último é o agente funerário”. Ah, que raiva! Minha esperança é que este livro seja um fracasso. Se você está segurando um exemplar na livraria, deixe-o de lado agora!
Por favor...
José Roberto Torero

Código: L999-9788593675218
Código de barras: 9788593675218
Peso (kg): 0,240
Altura (cm): 18,00
Largura (cm): 11,00
Espessura (cm): 1,10
Autor Castelo Carlos
Editora Noir
Idioma PORTUGUES
Encadernação BROCHURA
Páginas 256
Ano de edição 2019
Faixa etária

Escreva um comentário

Você deve acessar ou cadastrar-se para comentar.

Frases desfeitas