Julio Cortázar comparou o conto à fotografia. Para ele, o contista recorta um fragmento da realidade, delimita uma determinada ação, mas de um modo em que o leitor possa extrapolar a leitura para além dos limites da narrativa. Jeana Lexau e Jéferson Dantas conseguem muitas vezes atingir esse tratamento fotográfico nas narrativas curtas aqui reunidas, nem sempre equiparáveis aos contos, mas também à prosa poética, à crônica, ou seja, há diferentes formas de narrar o imponderável. À beira é um mosaico poético existencial sobre o obscurantismo em que o país mergulhou nos últimos anos. Trata, portanto, sobre a falibilidade humana, seus recalques, dores, dissabores e desencantos. A escrita lacerante dos autores propõe reflexões fundas num tempo histórico em que a aparência a todo instante teima em querer subjugar a essência.