A primeira pergunta que se faz sobre um recém nascido é: É menino ou menina? Quando não se pode responder a essa pergunta sem pensar duas vezes, trata-se de uma emergência médica. Roberta PagonOs distúrbios que afetam a determinação e a diferenciação do sexo envolvem, além de diversas questões médicas complexas e urgentes, problemas psicológicos extremamente sérios. Esses distúrbios podem se manifestar já ao nascimento, sob a forma de ambiguidade dos genitais externos, ou ainda, a partir da adolescência, sob a forma de atraso puberal ou de características puberais discordantes em relação ao sexo social do indivíduo.Além do grande impacto psicológico para as famílias e, também, certamente, para os próprios pacientes na dependência de sua faixa etária, há ainda repercussões na esfera social, uma vez que os problemas que afetam a diferenciação sexual ainda estão cercados de preconceitos. Lidar com esses problemas exige muita sensibilidade, de modo que não exista confusão ao longo do tempo a respeito da identificação sexual da criança.A experiência adquirida nos últimos dez anos pelo Grupo Interdisciplinar de Estudos da Determinação e Diferenciação do sexo (GIEDDS) da Universidade Estadual de Campinas (unicamp) no atendimento de mais de 300 casos permitiu a elaboração deste livro ímpar. Ele tem o objetivo de orientar a realização de um diagnóstico preciso da origem desses distúrbios, permitindo a correta definição do sexo, o aconselhamento genético da família, o estabelecimento de um prognóstico quanto ao desenvolvimento de caracteres sexuais secundários espontâneos, ao risco de malignização gonadal e à fertilidade futura, e a adoção de diversas medidas terapêuticas, incluindo a indicação da época e do tipo de correção cirúrgica reconstrutiva da genitália externa.