Crianças em dissidências: narrativas desobedientes da infância? é um livro que entrelaça belas esperanças com a produção de outros mundos vivíveis e possíveis, feitos da teimosia de histórias de uma gente aguerrida que, por meio do trabalho - com seus processos formativos, ativismos e artivismos - não desiste de afirmar a vida e a criança em práticas de liberdade e diferença. Os narradores e narradoras, em seus exercícios corajosos de pensamentos dissidentes, tecem narrativas com as crianças que somos, fomos e nunca seremos. Convocam-nos, na emergência do presente, a exercícios de perguntas que deslocam e movimentam a mesmidade. Fazem emergir uma convocação para que nos preocupemos e nos impliquemos com as condições afetivas, políticas, educacionais e culturais que garantem a sustentação das crianças que, como novidade, circulam entre nós. Nascimento e florescimento de vidas que não nos pertencem. As crianças, as que comparecem nos artigos que compõem este livro, razão de escrivivências singulares no comum, afirmam o direito à diferença, fazem ruir com suas presenças e reminiscências os confortáveis discursos e práticas que se supõem saber e os destinos pré-ditos para o corpo, o gênero e a sexualidade.

Este livro ficciona, fabula e problematiza cenas de vidas de crianças em suas raridades, mas não busca ensinar nada a ninguém. Os artigos que você encontrará aqui são despretensiosos, mas, nem por isso, sem rigor. O compromisso que fazemos é com as (des)aprendizagens. O objetivo é ampliarmos as redes conversantes com as crianças em dissidências, ligeiras, como sabem ser, que aparecem e desaparecem, porque raras, deixando em nós uma interrogação sobre nossa (in)capacidade de acolhimento e o nosso desejo pela norma. As narrativas que tecem esse bom encontro recorrem a exercícios sensíveis de experimentações de modos de narrar e escrever e se põem em aproximações bonitas com a filosofia da diferença, com a filosofia da infância, com os estudos da criança, com os estudos bichas, com o cinema, com a fotografia, com a música, com a poesia, com histórias conhecidas por muitos de nós, com lendas, ruas, escolas, com práticas docentes que importam e não se conformam com as práticas de Herodes no extermínio da novidade. Por serem provocações a práticas desobedientes, lhes fazemos um convite para que entrem nesta narrativa e que, na condição de narradores e narradoras, nos ajudem a tecer outras conversas.