Apontada como a voz da consciência feminista britânica da década de 60, a controversa, Fay Weldon, em O diário da madrasta, gira sua metralhadora ficcional para as nuances da vida doméstica. A trama gira em torno de Sappho. Certo dia, ela bate à porta de sua mãe visivelmente perturbada para lhe pedir que esconda seus diários. São vários cadernos, reunidos às pressas numa sacola de supermercado, nos quais Sappho conta a história de seu casamento com Gavin. Entregues os diários, ela desaparece no mundo, e a mãe, Emily, psicanalista freudiana, não vê escolha senão ir a fundo na história de sua querida filha.Porém, a curiosidade dá lugar a uma profunda angústia à medida que a preocupada mãe descobre a que situações perturbadoras a filha foi exposta nos últimos anos. Uma jovem dramaturga, Sappho passou anos convivendo intimamente com a família Garner: Gavin, o marido atraente e dedicado; Isolde, grande autora de peças de teatro; e Arthur e Isobel, filhos do casal, à época apenas inocentes crianças. Isolde teve uma morte dolorosa quando os filhos ainda eram pequenos, e anos depois, quando Sappho e Gavin se reencontram e se envolvem, toda a bagagem familiar dele revela-se aos poucos um fardo que exige muito mais que boa vontade para suportar.Com pausas para análises psicanalíticas de Emily e para os dramas do presente, o passado aos poucos revela um mundo de tragédias e armadilhas da vida doméstica, assustador em sua complexidade. E o leitor é convidado a mergulhar nessa narrativa de fôlego, fluida e elegante, que desvela num ritmo estonteante os momentos da vida e da família de Sappho, que subitamente é forçada a se encaixar no velho papel da madrasta odiada.