O Livro de Catulo – talvez o único de Caio Valério Catulo (c. 87–c. 52 a.C.) – é o mais antigo livro de poemas latinos que nos chegou praticamente inteiro. Versátil, cultor de vários gêneros, no mais das vezes mordaz, Catulo foi contemporâneo de figuras célebres, como Júlio César e Cícero, a quem não poupou de sua mordacidade. Mas cantou também o amor (e o ódio) a uma mulher celebrizada com o codinome “Lésbia”, e cantou ainda os amigos e a terra natal.
Neste volume, João Angelo Oliva Neto traduz em versos métricos e comenta com anotação todos os poemas, inclusive os fragmentários, e tudo vem precedido de rigorosa introdução, que desvenda para iniciantes em letras latinas a maneira de Catulo compor. Assim como todo engenho, ou toda máquina, tem atrás de si uma engenharia, assim também todo poema, que é uma máquina de afetar corações, tem atrás de si uma poética: a de Catulo é a que haviam praticado no século III a.C. os poetas gregos que trabalharam na extraordinária biblioteca de Alexandria, no limite da poesia refinada, que já apresenta o que se veria muitos séculos depois, no modernismo e no pós-modernismo, quando escritores se viram obrigados a pôr na berlinda a própria linguagem. Expoente no período foi o poeta e bibliotecário grego Calímaco de Cirene (c. 300–240 a.C.), uma espécie de Jorge Luis Borges da Antiguidade, e seu primeiro grande émulo em Roma foi justamente Caio Valério Catulo.