• A persuasão de um discurso religioso

O discurso religioso é forte o suficiente para convencer multidões”. É desta constatação que parte o trajeto proposto por Bruna Balan ao seu leitor. A que se deve tal efeito? Seria à forma da comunicação, ao seu conteúdo, a uma peculiar combinação dos dois fatores, talvez com a participação de outros ainda? Originalmente uma dissertação de mestrado em Psicologia Clínica apresentada à PUC de São Paulo, o trabalho traz uma breve história do protestantismo no Brasil, a fim de situar nela o lugar do seu objeto específico: o discurso da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD). Guiando-se pela Retórica de Aristóteles, cujas análises conservam absoluta atualidade mesmo transcorridos 24 séculos da sua publicação, e na companhia de alguns comentadores contemporâneos dessa obra ímpar, Bruna vai percorrendo os diversos elementos – formais e circunstanciais, estes ligados à pessoa do orador – que contribuem para fazer de um conjunto de sentenças encadeadas um discurso eficaz. Vem em seguida um estudo do alvo desse discurso, ou seja, o ouvinte e as suas emoções. Como não se trata de demonstrar um teorema ou um argumento filosófico, mas de conquistar a adesão de corações e mentes, a razão sozinha não dá conta do recado: é preciso tocar a corda dos afetos. É na Psicanálise e no seu estudo dos fatores inconscientes que codeterminam nossos pensamentos e nossos atos que a autora vai agora buscar luzes. Trata-se de submeter o conteúdo de algumas amostras do “discurso iurdiano” à lupa dos conceitos freudianos: quais setores da vida psíquica a mensagem dos pastores atinge com tanto impacto? São então examinadas as fontes infantis de angústia, bem como fatores ligados ao desamparo essencial da condição humana, e aspectos narcísicos (de autoimagem) que atuam na conformação dos grupos em geral e dos grupos religiosos em particular. Entre eles, destacam-se a esperança de – com o auxílio da fé individual e do apoio do coletivo – lograr a sensação de segurança que advém do se sentir pertencendo a uma comunidade forte, coesa e abençoada pelo Todo-Poderoso (a “armadura de Deus” que os “espiritualmente não-nus” envergam para enfrentar as tentações do “dia mau”). Essas breves pinceladas do que o leitor encontrará nas páginas a seguir bastam para dar uma ideia do proveito que se pode tirar delas. Bem documentado, baseado em bibliografia variada e atualizada, e escrito em boa prosa, o livro de estreia desta jovem psicanalista representa um primeiro passo para compreender um fenômeno que não se limita à dimensão religiosa, mas se espraia pelos campos da Psicologia, da Sociologia e da política. Que seja seguido por outros, e que o debate assim instaurado contribua para o progresso dos estudos de Psicanálise aplicada em nosso país! Renato Mezan

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Autor Bruna Anselmo Oliveira Balan
Editora CRV
Idioma PORTUGUES
Encadernação BROCHURA
Páginas 154
Ano de edição 2022

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A persuasão de um discurso religioso